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Entrevista com A Chama


- Muito obrigada Rui, por esta entrevista! Começando pelo inicio, como surgiu em 2017 a ideia de criar A Chama? Quais eram na altura as vossas motivações?


R : Boas, obrigado eu. Já agora… o meu nome é Rafael, não Rui (risos).

A banda surgiu algures no Verão de 2014, ou pouco antes. Na altura eu tinha um contacto muito próximo com o nosso primeiro vocalista, o Íco, que já acompanhava desde os tempos dos saudosos Lov da Xit. Sempre quis ter uma banda com ele pois é uma personalidade que admiro bastante no meio underground nacional devido à intensa batalha que leva no dia-a-dia pelos seus ideais e valores e há muito poucos como ele. Decidi fazer uma banda interventiva, com mensagem forte (como apenas ele sabe escrever ou muito poucos mais) e com uma sonoridade mais agressiva, algures entre o crust e o hardcore. A sonoridade foi-se desviando um bocado disso, em grande parte devido às influências dos restantes membros da banda e ficou aquele puro hardcore faro style J As nossas motivações eram, acima de tudo, meter o dedo na ferida. Aqueles assuntos que a malta prefere ignorar e fechar os olhos, nós preferimos dar uma chapada na cara dessa gente. Tudo começou com uma ‘Morte no Algarve’ e terminou em ‘Miséria’. Mesmo os títulos dos temas eram todos um bocado controversos pois a ideia sempre foi incendiar, nunca apagar o fogo. Daí o nome ‘A CHAMA’ e a frase ‘A chama continua a arder, continua a queimar’.


- Como se conheceram todos os elementos?

R : Hum… isso é um bocado mais complexo de responder mas todos nos conhecemos dentro do meio punk/hardcore/metal nacional. Já conhecia o Jimmy desde o início do milénio e já tive o prazer de partilhar diversas bandas com ele. O Bruno, o Zé e o Vito conheci mesmo dentro da cena hardcore algarvia. A organizar shows, a tocar, a ver os outros projectos deles em palco, etc. Foi bastante natural, digamos que foi a música que nos ligou.



-Como vês o percurso da banda desde o inicio até aos dias de hoje? Quais são as emoções que te trás ao revê-lo?

R : O percurso da banda foi bastante tranquilo e positivo. Começámos com uma demo de 4 temas, 2 vídeos (um deles ao vivo), depois ainda fizemos uma edição online de um show no Bafo de Baco e no início deste ano lançámos o primeiro disco oficial, um split cd partilhado com Slug, Sarna e Advogado do Diabo, numa edição a meias entre a Last Man Standing Records e a Out Of Sight Crew, dois colectivos que nos prestaram um apoio incondicional desde o 1º segundo. Emoções? Muitas, todas. Ter uma banda é das melhores sensações que um ser humano pode ter. Ensaiar, compor, escrever, tocar, partilhar, viajar, conhecer, descobrir, presenciar, saborear… faz tudo parte. E cada segundo que vivi com os outros 5 valeram a vida!


- Como é criar as vossas músicas? Como funciona o vosso processo criativo?

R : Penso que funciona de uma forma normal como em todas as bandas, digo eu. Ou alguém surge com uma letra e procura-se um tema para completar ou vice-versa. Na altura do Íco era mais primeiro a letra e depois o tema. Ele trazia algo escrito e eu compunha com a ajuda dos outros. Muitas vezes trazia eu riffs de casa e escrevia-se na hora ou no dia seguinte. Não é nada muito complexo. Mais complexo é agradar a todos (risos).


- Têm alguma preferência quanto aos temas que decidem abordar?

R : Todas as questões vão bater ao mesmo, digo eu. Na era do Íco a banda era 100% política – e continuou a ser até os últimos dias – mas sem marcar uma posição ‘partidária’, se me faço entender. Com a entrada do Zé abordámos outros temas mais sociais e menos políticos mas a vertente política está presente em todos os nossos temas. Com o passar dos anos a malta tende a deixar a ‘luta’ para trás e a concentrar-se em temas fúteis que nada de bom trazem para a ‘cena’. Nós sempre tivemos intenção de escrever sobre o dia-a-dia e sobre tudo aquilo que nos fazia confusão na sociedade. A música é um dos veículos mais fortes para se transportar a mensagem para o público.


- Quais são os vossos planos para o futuro?

R : A banda entretanto terminou (risos). Terminámos no dia 5 de Novembro. Não havia muito tempo e cada um estava numa onda diferente. Foi preferível cada um seguir o seu caminho, praticamente todos têm bandas, e assim apoiamo-nos mutuamente mas em diferentes projectos (risos). Mas continuamos a ter planos para o futuro… isto é, que daqui a 10 anos ainda se lembrem de nós e nos perguntem ‘Então quando é que se juntam para dar mais um show?’. Mas eu espero que esse show não demore 10 anos a chegar (risos).


- Onde vos podemos ouvir ao vivo a seguir?

R : No bandcamp d’A Chama… tens lá 6 temas ao vivo no Bafo de Baco em Dezembro de 2014, já não é mau (rsisos).


- Como tem sido a receptividade ao vosso Split CD? Corresponde ás expectativas?

R : A receptividade tem sido boa, de facto. Chegámos a ver alguma malta a cantar os temas nos concertos e isso é o melhor brinde que uma banda pode obter. Correspondeu às expectativas, claro. Embora, obviamente, prefira que a malta leia as letras e reflicta sobre elas. Todas têm uma mensagem forte para passar. Cantares um tema agindo de uma forma diferente não é fixe, digo eu, por isso curtia que a malta sentisse toda a conotação nas nossas palavras e que ao menos tentassem entender o porquê de terem sido escritas.


-Como surgiu este CD com estas bandas em concreto? E a ligação à LastManStandingRecords?

R : A relação com a LMS é simples… eu faço parte da editora (risos). Foi uma iniciativa a meias com a Out Of Sight Crew em que quisemos pegar em 4 bandas que estavam prestes a entrar em estúdio sem um destino para os temas… e saiu assim. Muitas das bandas queriam meter os temas online mas eu não deixei que isso acontecesse, achas que sim??? (risos)

Foi bastante natural… 4 bandas de malta amiga, de ondas bastante parecidas – todas ligadas ao punk / hardcore – e as coisas fluíram de um modo bastante tranquilo.


-Como vêem a cena punk em Portugal ao longos destes anos todos? Têm havido evoluções? Alterações? Melhorias? Conquistas?

R : O punk-rock melhorou bastante em sonoridade (embora isto seja subjectivo) mas perdeu-se na atitude. As bandas punk que me perdoem mas é o que sinto. Não tens aquela mística dos 80/90 dos Censurados, Peste & Sida, Ex-Votos, Crise Total, etc. Na altura as coisas eram mais sentidas e a malta ‘levava na boca’ com orgulho pois estavam a traçar um caminho. Hoje em dia é tudo demasiado técnico, bonito, perfeito, cheio de melodias e coros excessivos mas conteúdo… zero!!! Claro que ainda há muitas bandas a escrever sobre assuntos importantes (não vou mencionar nomes, desculpa) mas também há muita coisa ‘à toa’. A malta esquece-se que o punk não é um estilo de música…. É 1 estilo de vida!! Foi isso que aprendi em 1997 quando ouvia X-Acto, New Winds, Trinta & Um, etc. Mas todos são importantes para o movimento. Caso contrário estaria tudo a tocar quizomba, e pra isso prefiro punk sem mensagem (risos).


-Deixamos aqui os parabéns pelo lançamento do Split CD, e o desejo de muitos sucessos!

Mais uma vez, obrigada pela disponibilidade para esta entrevista. Por fim gostariamos que deixassem uma última palavra aos vossos fãs e nossos leitores...

R : Obrigado eu. A mensagem já deixei nas respostas anteriores… mas basicamente reitero a minha ideia de que a malta devia perder mais tempo a ler as letras das bandas, pelo menos para entenderem qual a direcção que cada uma leva. Antes ainda havia as zines (saudades!), hoje em dia dependes de blogues (cada x menos) e da mensagem das bandas. Interessem-se mais… as bandas agradecem pois ninguém fala à toa e PORQUE NADA SE CONSTRÓI SOZINHO !!


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